Carnaval
Entenda cada menção de origem africana no samba da Gaviões
O Alambrado Alvinegro destrinchou o samba-enredo da Gaviões da Fiel de 2025 chamado de chamado de Irin Ajó Emi Ojisé, o primeiro tema afro da escola de samba da torcida do Corinthians. A viagem do espírito mensageiro.
O enredo explora com maestria a profundidade cultural e simbólica das máscaras africanas, colocando-as como um elemento central da rica tradição dos povos da África Subsaariana.
As máscaras, além de sua função estética, desempenham papéis cruciais em cerimônias religiosas, ritos de passagem e celebrações comunitárias. Elas não apenas representam entidades ou espíritos, mas também são veículos de comunicação entre o mundo humano e o espiritual.
O projeto de Irin Ajó Emi Ojisé reconhece esse valor, ao reinterpretar as máscaras dentro de um contexto que combina história, mito e fantasia, demonstrando como o legado africano pode ser ressignificado em um espaço como o carnaval, onde a arte encontra a celebração.
A viagem começa em Mali e passa por Camarões, Gabão, Burkina, Serra Leoa, Angola e outros países do continente.
VAMOS ÀS EXPLICAÇÕES
Me fiz Emi caminheiro
- Na língua iorubá, falada por povos originários da Nigéria e em outras regiões da África Ocidental, “Emi” significa “espírito”, “essência vital” ou “fôlego de vida”. É associado à energia divina que dá vida a todos os seres.
Fiel mensageiro, Orunmilá, eu sou!
- Orunmilá, também chamado de Òrúnmìlà, é uma das principais divindades (orixás) do panteão iorubá, reverenciado como o orixá da sabedoria, do conhecimento e da adivinhação.
Chamei o senhor do itinerário
- O título “Senhor do Itinerário” está relacionado a Orunmilá, o orixá da sabedoria e do destino na tradição iorubá. Ele é conhecido por esse nome devido à sua função de orientar o caminho dos seres humanos ao longo da vida, ajudando-os a trilhar o itinerário correto de acordo com o destino escolhido antes do nascimento.
E vesti meu ideário
- No contexto das religiões afro-brasileiras, como o Candomblé ou a Umbanda, o ideário envolve: A crença nos orixás e suas funções divinas, A valorização dos ancestrais e do equilíbrio entre o mundo espiritual e material, o respeito à natureza, vista como sagrada.
Na poeira se alastrou
Logo eu que forjei o amanhã
Na floresta de Nanã mascarados a dançar
- Na floresta de Nanã é uma expressão que remete à relação simbólica entre a orixá Nanã e a natureza, especialmente os ambientes ligados à terra úmida, ao barro e às águas paradas. Nanã é considerada uma das orixás mais antigas no panteão africano, relacionada à sabedoria ancestral, à criação da vida e ao mistério da morte.
Assentei meu saber na sua fé
No ayê de Gueledé, no feitiço de Iyá
- No Ayê de Gueledé faz referência a um contexto rico e simbólico da cultura iorubá, relacionado ao culto às Gẹ̀lẹ́dẹ́, um sistema de celebração, respeito e veneração das forças femininas, especialmente o poder das mulheres anciãs, conhecidas como Àjé.
- Ayê: Significa o “mundo” ou “terra” no idioma iorubá. É o espaço físico onde a vida acontece, em contraste com o Òrún (mundo espiritual).
- Gueledé (Gẹ̀lẹ́dẹ́): É um culto e uma celebração tradicional da cultura iorubá, reconhecida por suas máscaras e danças. Essa prática é dedicada às mulheres e à força criativa e destrutiva que elas representam.
- Os feitiços atribuídos às Iyás não têm conotação negativa, mas sim de um conhecimento profundo da natureza, dos elementos e das forças espirituais.
- Iyá significa “mãe” na língua iorubá. No contexto religioso, refere-se às figuras maternas espirituais ou anciãs que detêm grande poder e sabedoria. As Iyás podem ser tanto mulheres anciãs respeitadas na comunidade quanto representações de orixás femininas, como Nanã, Iemanjá, Oxum, Obá ou Iansã.
Eu segui essa banda
É alafi, sambará
- Alafi: A palavra “Alafi” pode ser uma derivação do termo iorubá “Alafia”, que significa paz, bem-estar ou saúde. É frequentemente usada em cânticos e saudações para invocar tranquilidade e harmonia.
- Sambará: presente em cânticos litúrgicos. Seu significado pode variar, mas geralmente é usado como um som ou exaltação espiritual, reforçando energia, proteção ou a celebração de um orixá.
Maleme ê, ô maleme á
- Maleme: É frequentemente associada a exaltações, louvores ou saudações dirigidas aos orixás ou às forças espirituais.
- Ê e Á: São sons ou entonações utilizados para marcar o ritmo e a energia do cântico, destacando a vibração espiritual da celebração.
Esses cânticos são meios de elevar a vibração espiritual do ambiente e estabelecer conexão com as divindades. A frase é entoada em ritmo específico, acompanhada por instrumentos como atabaques, que amplificam sua força e espiritualidade.
Quando Alafin bradou a justiça de oyó
- Faz referência a um evento ou situação histórica ligada à liderança do Alafin (ou Aláfin) de Oyó, um dos títulos mais importantes do Império de Oyó, um antigo reino da civilização iorubá na atual Nigéria. O Alafin era visto como uma autoridade política e religiosa, sendo o responsável por manter a ordem e a justiça no reino.
- Alafin refere-se a um título tradicionalmente associado aos governantes do império de Oyo, uma das grandes civilizações da África Ocidental, localizada na atual Nigéria. O Alafin era o monarca supremo do Reino de Oyo e desempenhava um papel crucial tanto político quanto religioso. A palavra “Alafin” pode ser traduzida como “Rei dos Reis” ou “Rei Supremo”.
- A Justiça de Oyo refere-se ao sistema jurídico tradicional do Império de Oyo, uma das civilizações mais poderosas e influentes da África Ocidental. O Império de Oyo, que floresceu entre os séculos XV e XVIII na região que hoje corresponde à Nigéria, possuía uma estrutura política e legal sofisticada, que combinava aspectos divinos, religiosos e pragmáticos para governar e manter a ordem.
- As máscaras desempenhavam um papel importante nos rituais de justiça, já que eram símbolos de autoridade, poder divino e conexão com os ancestrais. Durante cerimônias de julgamento e rituais religiosos, os líderes usavam máscaras para afirmar seu vínculo com as forças espirituais e garantir que o processo fosse conduzido de forma justa e conforme a vontade das divindades.
Alujá roncou axé, no inimigo deu um nó
- “Alujá” é uma expressão que se refere a Olujá, um título dado a uma divindade ou orixá associado ao poder, à autoridade e à liderança. Olujá pode ser interpretado como o “Senhor da Justiça” ou o “Rei dos Orixás”. Essa divindade está relacionada a conceitos de sabedoria, força e equilíbrio, sendo um símbolo de proteção e justiça, frequentemente invocado em momentos de conflito ou necessidade de orientação espiritual.
- “Roncar” é uma palavra que evoca uma ação de grande intensidade, como o som de um trovão, e axé é a energia vital, a força espiritual que permeia todas as coisas e é fundamental para o equilíbrio e o poder das forças divinas. Axé é utilizado para se referir à energia que provém dos orixás, dos ancestrais e do universo, sendo vital para a realização de rituais, curas e vitórias espirituais.
- No inimigo deu um nó: A expressão “no inimigo deu um nó” se refere ao conceito de vencer ou dominar uma força adversária, mas com uma metáfora de confusão ou imobilização. O “nó” simboliza a ação de prender, limitar ou desorientar o inimigo, algo que impede o avanço ou a ação de quem se opõe.
No palácio de Xangô, Egungun rodopiou
- Xangô é um dos orixás mais importantes na mitologia yorubá e está associado à justiça, força, coragem, raiva e poder. Ele é o deus dos trovões e relâmpagos, representando o rei, a liderança e a autoridade divina.
- O palácio de Xangô é um lugar simbólico onde reside essa energia de poder, julgamento e proteção. Na tradição, Xangô é visto como o soberano que mantém a ordem no mundo e no universo, regulando as leis e garantindo a justiça.
- Egungun é um termo que se refere aos ancestrais ou espíritos dos mortos que são reverenciados nas religiões de matriz africana. O Egungun representa a continuidade da vida através dos ancestrais, que são chamados a participar da vida cotidiana para garantir proteção, sabedoria e bênçãos para os vivos.
- O ato de rodopiar está relacionado a um movimento ritualístico que simboliza a manifestação e a comunicação dos espíritos, especialmente durante festas ou cerimônias.
- Quando o Egungun “rodopia”, significa que ele está se manifestando no mundo físico, através de danças e movimentos que representam a comunicação entre os vivos e os mortos, bem como a transmissão de sabedoria ancestral.
Ebomim girou a saia, ayeye de iaô
- Ebomim é uma palavra que, dentro da tradição yorubá, se refere a um ser ou entidade de grande poder espiritual. Na cultura do Candomblé, é uma expressão usada para se referir ao ato de um ser divino ou ancestral fazer algo com grande autoridade e energia. Ebomim pode ser interpretado como uma ação sagrada ou um ato de poder manifestado durante um ritual.
- Ayeye é uma palavra yorubá que geralmente significa “alegria”, “canto”, ou “festa”, frequentemente associada à celebração e à manifestação de forças espirituais durante rituais.
- Iaô é o termo utilizado para se referir a um iniciado no Candomblé, especialmente um noviço ou uma pessoa que passou por um período de aprendizado e de preparação espiritual. O termo também é relacionado ao filho de santo que está em processo de iniciação.
Nas aldeias de marfim os sagrados rituais
- O marfim é um material precioso, associado à nobreza, à riqueza e à espiritualidade em muitas culturas africanas. Nas tradições africanas, o marfim frequentemente representa algo sagrado, reservado a um contexto elevado, como a realeza ou a divindade. Ele também simboliza a conexão com o sagrado e a ancestralidade.
Pelos nossos ancestrais, uma África em fúria. Um produto no mercado, o destino separado
Mas a lágrima de dor se transforma em bravura.
Aos nosso filhos, herdeiros de Luanda
De Angola e Matamba, chama de Aluvaiá
- Aluvaiá é frequentemente entendido como uma saudação ou invocação ritualística de uma energia positiva, de abençoar e de chamar as forças espirituais para garantir a prosperidade, a proteção e a harmonia. O termo carrega um sentido de poder e benção divinos.
- É importante notar que a palavra Aluvaiá pode ter variações no uso e no significado dependendo da tradição e do contexto. Em algumas cerimônias, ela é usada em cânticos e danças para invocar a presença de divindades e espíritos protetores, especialmente nas saudações aos orixás, como Xangô (orixá do trovão, justiça e fogo), Oxum (orixá do amor e das águas doces), entre outros.
Sou a revolta que não teme a demanda
Liberdade em Aruanda é palavra deferida
Levo o axé dos meus ensinamentos
Pro futuro que se preza, hoje a profecia é cumprida.
- Aruanda é considerada um planalto espiritual ou uma dimensão elevada, onde habitam os espíritos e os orixás. Este lugar é frequentemente associado à paz, à sabedoria e à elevação espiritual. Aruanda é, portanto, um local sagrado, ligado à vida espiritual, onde as forças divinas e as almas dos ancestrais residem.
Irin Ajó Emi Ojisé, Odara!
Irin Ajó Emi Ojisé, ewá!
Meu Gavião vai ao encontro do Orun
Que na casa de Ogum, é tempo de alafiar
Irin Ajó Emi Ojisé
- Irin Ajó: “Irin” significa “caminho” ou “jornada”, enquanto Ajó está relacionado à viagem, ao caminhar ou ao percurso. Irin Ajó pode, então, ser traduzido como “a jornada da vida” ou “o caminho da existência”.
- Emi: Significa “eu”, ou “eu sou”, e pode também representar a essência ou o espírito de uma pessoa, indicando a conexão entre o indivíduo e sua jornada espiritual ou sua missão de vida.
- Ojisé: Esta palavra se refere a alguém que está iluminado, abençoado ou completamente em harmonia com os princípios espirituais. Pode estar associada à sabedoria, à maturidade espiritual ou ao conhecimento profundo das forças que regem o universo.
- “Odara” é uma saudação ou expressão de alegria, benção e bom presságio. Pode ser traduzida como “tudo está bem”, “está ótimo”, ou “está em harmonia”.
- Ewa é um conceito de beleza, graça e elegância, fundamental na espiritualidade iorubá e nas religiões afro-brasileiras. Está intimamente associado à Oxum, a orixá da beleza e do amor, e carrega consigo uma ideia de perfeição espiritual e equilíbrio. Ao invocar ou usar a palavra Ewa, está-se celebrando uma conexão com a beleza divina, tanto no plano físico quanto no plano espiritual, e com a energia positiva que emana dessas forças.
- Orun se refere ao céu ou ao mundo espiritual, sendo muitas vezes entendido como o reino divino, o domínio dos orixás e dos ancestrais. É o lugar onde habitam os deuses, as divindades e os espíritos dos que já partiram, uma esfera que transcende o mundo físico (chamado de Ayé na tradição iorubá).
- Ogum é considerado um orixá guerreiro, ferreiro e protetor. Ele é conhecido por sua força física, coragem e habilidade na arte de trabalhar com metais e criar ferramentas e armas, especialmente espadas e facas. Ogum representa a energia vital necessária para abrir caminhos, superar obstáculos e lutar contra forças destrutivas, tanto no plano físico quanto no espiritual.
- Ogum também está relacionado a significados como “o que abre os caminhos”, “aquele que destrói o inimigo” ou “o vencedor”. Em muitas tradições, Ogum é invocado quando é necessário vencer desafios, remover barreiras ou proteger pessoas de forças negativas. Ele é um símbolo de determinação, força de vontade e habilidade.