Quando o gerente José Pinto da Cunha faleceu, em 21 de junho de 2024, aos 80 anos, seu filho, José Eduardo Pinto da Cunha, decidiu que o vínculo entre eles e o Corinthians não terminaria ali. Meses depois, participou da campanha de doação para a Neo Química Arena e eternizou o nome do pai em uma das placas do estádio.
A escolha foi um gesto de retribuição: uma forma de deixar registrado, no espaço mais simbólico do clube, a origem da paixão que herdou ainda menino.
Professor e administrador, o paulista José Eduardo – com 44 anos – hoje vive no Triângulo Mineiro e foi criado em Taquaritinga (SP), mesma cidade onde seu pai viveu por toda a vida. Foi ali que aprendeu, na prática, o que significava torcer para o Corinthians.
Ainda criança, via o pai chegar do trabalho e colocar para tocar o disco de vinil com a narração dos gols de 1977. Mesmo sem ter vivido o título, entendia, pelo olhar do pai, o que aquela conquista representava.
Em 1988, com oito anos, viu ao lado do pai o gol de Viola contra o Guarani. No dia seguinte, no campinho de terra da cidade, repetiram juntos o lance.
Em 1990, a cena se repetiu, dessa vez com Tupãzinho marcando contra o São Paulo. Outros familiares estavam na sala, e ali, segundo o primo Alessandro, foi o momento em que todos passaram a entender o que era ser Corinthians — um sentimento que ia além do jogo.
A primeira ida ao estádio foi marcante: Campeonato Paulista de 1993, em Novo Horizonte. Corinthians 3, Novorizontino 0. Moacir, Ezequiel e Adil fizeram os gols. José guarda até hoje a fita VHS daquela partida. Em 1995, em Ribeirão Preto, assistiram juntos ao empate contra o Santos. Na memória, mais do que os lances, ficou o ritual: pai e filho vivendo o Corinthians como parte da vida cotidiana.
Com o tempo, vieram as mudanças. Em 2007, José Eduardo deixou a casa dos pais para seguir carreira, mas os jogos continuaram sendo assunto de toda semana. Ao fim de cada partida, vinha a ligação: para comentar, para reclamar do juiz ou para compartilhar o peso de uma derrota. Mesmo à distância, o Corinthians seguiu unindo os dois.
Com a morte do pai, José buscou uma forma de manter esse elo visível. Viu na campanha da Neo Química Arena a oportunidade de fazer o nome de José Pinto da Cunha permanecer onde ele sempre sonhou estar — nas arquibancadas, entre os que respiram o clube.
“Ele nunca conseguiu visitar o estádio. Era um sonho, mas não deu tempo. Quando surgiu a possibilidade da placa, eu sabia que precisava fazer isso. Hoje, esse nome está lá, e aqui em casa, preparei um espaço com fotos, lembranças e o certificado da doação. É uma forma de manter viva essa história que começou comigo ouvindo ele colocar o disco do título de 77”, contou José Eduardo.
Do interior paulista ao coração da arena, o nome de José Pinto da Cunha agora está gravado na estrutura do clube. E, para quem vive o Corinthians como herança, essa é uma forma de seguir presente em cada jogo — mesmo quando a presença já virou lembrança.
”Hoje assistimos aos jogos pelo coração e é claro, pela razão de ser Corinthians, agradeço a ele todos os dias por me fazer Corinthians, e quando veio a campanha de doação para arena, não pensei em duas vezes em fazer um certificado para ele, assim sei que o nome de meu pai será eternizado na área Corinthians e também tenho a certeza que ele em vida se sentiria muito orgulhoso e feliz por isso, de saber do seu nome em uma placa no estádio, e sendo que o maior sonho dele era de conhecer o estádio, mas infelizmente não tivemos tempo para isso”.
